15 de out. de 2013

Doce lar

          São Paulo chora tão terrível e elegantemente que eu não consigo parar de pensar nas pessoas que são obrigadas a serem sentimentalizadas por seu pranto. Mesmo no meu apartamento no céu um breve momento de escuridão é necessário para tal admiração. Minha cidade faz questão de cuspir em meu rosto, na minha eletricidade e na minha varanda por sua angústia, faz questão de mostrar sua fúria e exigir reparos ao me privar de meus momentos iluministas. Não sabe ela que sua tristeza é, na verdade, compartilhada entre os camaradas barbudos, entre clérigos populares, entre os civis indiferentes e até pelos homens de terno. Ela não sabe que sentimos sua raiva do momento em que pisamos em sua terra até o dia em que um projétil nos empurrará para suas profundezas. Ela não sabe que sentimos.
          Na chuva, minha turma não sofre. As janelas do prédio são fortificadas, a eletricidade é garantida por um gerador de diesel sujo e minha água, meu aquecimento, minha programação de qualidade "gold" e minha comida estão garantidos por invenções que vão além da minha capacidade intelectual. Entretanto, independentemente desses fatores, não estou contente.
          Não quero eu sair pelas ruas e cantar a viciosa canção da cidade da garoa, não tenho a intenção de deixar meu apartamento e ir a uma boate ou um bar numa madrugada de terça-feira e sou indiferente ao efeito da gravidade sobre essas gotículas inevitáveis. Não faço questão de que a Lua desapareça e dê lugar ao formoso Sol que traz consigo a esperança de que um dia esta será uma boa morada aos pais de família da periferia que, de acordo com nossa história, só sabem se fuder. Não quero viver para o amanhã.
           Quero, sim, sair sozinho e com vocês nas minhas ruas, nas nossas ruas, todos nus e gritando, ignorando nossos corpos e ouvindo apenas nossas vozes na avenida paulista. E ao notar nossos corpos, reparar em seu movimento constante de metamorfose edificadora arrancando as grades do palácio dos bandeirantes. Quero fazer a garoa sorrir ao mudar as vidas dos homens que tanto sofreram e estender minha mão aos porcos abastados que cairão neste momento e transformá-los em cidadãos. Quero bater nessa gente que tanto dorme em pleno serviço da constituição e mostrar que as mudanças virão e, sejam eles quem forem, o preço será pago por todos... Quero mostrar que podemos viver e não nos matar.
           Tenho ciência da minha ignorância, minha dialética é repugnante e meu intelecto foi amplamente reprimido com o tempo. Entretanto, sou um insatisfeito. Sou um infeliz que não consegue ser feliz por não conseguir alcançar a fase da "aceitação" e, logicamente, não consigo aceitar os horrores praticados diariamente por todos. Sou muito útil pra sociedade. Não culpo os acomodados por nossos transtornos, mas faço questão de mostrar neste texto o sentimento de decepção que minha cidade nos mostra.
            Sei que é apenas uma chuva, ainda não atingi o status de loucura, mas foi uma chuva tão tagarela...

31 de ago. de 2013

Lanche natural industrializado

Meu corpo doía meu pulmão urgia meu coração batia
Da penicilina abusei para garantir para relaxar, por favor!
Não bastava a doença assintomática ainda aguentava os pequenos
Na casa gritavam a patroa chorava.. degluti como o Dr. mandou.

Não lembro de muito, o mundo estava mudo, uma caixa fina da parede dava risada,
Meu sustento biológico veio dum paralelepípedo translucido, esquisito... uma filosofia!
A donzela da casa veio me agarrar, decidi fazer vingar também.
Tão simples! Bastou-me a combinação de tempo e um copo d'água.
Essas noites são sempre coloridas, cheias de luzes, sentimentos, interesse, magia... uma loucura!

Morta e rancorosa é a luz que estupra cega desperta e arranca meu prazer
É ela a personificação do Diabo proletário que envolve seus filhos num universo de alegria estúpida e fala
A vingança será na próxima vida e morrerei tentando provar tal fato ainda nesta.
Estas bestas não podem ser assim tão burras ignorantes desinteressadas promíscuas e alienadas da sua própria miséria.

Não há salvação, minha própria raça... ela está contaminada com esse processo de putrefação intelectual,
O inferno risonho invade meu céu de brancura bela, de pureza e de sacrifício.
Discordância ideológica, choque de culturas, luta de classes, centrais e periféricos... faça da nomenclatura o seu prazer,
Mas o nome disto é Guerra, e a falange soberana é minha!
Meu comportamento em relação ao mundo será sempre de humildade e desvinculação,
Não deixarei que sujem o nome da minha justiça com o título de intolerância.

A graça de Deus

É intrigante ver a posição do meu suposto Pai,
Pois o meu incentivo tende, progressivamente, a um obstáculo.
Meu sangue é ardente e minha consciência é superior,
Mas não possuo Sua potência, nem Sua presença.

Tua astúcia é gananciosa, não sabe parar.
Fazes Tu a galhofa de rebaixar minha idolatria sobre um milhar de Marias,
Tens Tu o gracejo de ajoelha-la ao meu ódio
E ainda brinca e goza com seu estado civil.

Há quem diga que a penitência leva ao Seu encontro,
Por esta jocosidade e pela antiga meretriz, creio possuir crédito abastado.
Assim, prevejo que nosso encontro será breve
Na Sua casa, no Seu conforto, no Seu reino.

Se existes, não é magnificência alguma dizer que descendo te Ti,
Tenho também a graça e o sadismo divinos.
Logo fundarei Seu caos nesta Terra morta e infeliz
E, ao bater em sua porta, serei você e tu serás Eu.

23 de ago. de 2013

Bruna é pequena, mas não surfa

Maldita fera celeste, sempre vem importunar.
No auge do pensamento, ápice da lógica,
Desce cintilante e furiosa em chuva constante.
Não tendo refúgio, meu fado é morrer.

É boa essa hipócrita paradoxal,
Apresenta-me a dúvida como presente
E rouba o que construí com sangue
Para o prazer de os assolar privadamente.

Vivi com liberdade plena e inquestionável,
Mas concedi meus pensamentos ("privatizei", pra direita).
Faltavam-me recursos e meu palácio deixei
Enquanto o Absurdo imperava e jantava fartamente.

Era esperado:
Da luz fez-se fogo em minha tez,
Da chuva alagou-se meu interior,
Na queda dos escombros não mais sentia
E, com minha morte, morreu meu parasita.

Seu sentir de peralta tornou-se lúdico
E, por consequência do lúdico, nasceu o libertário.
Tanto no século XIX quanto no XXI
Dirão que vivo anarquia, desordem e irracionalidade.
Graças a ti, não desmentirei tais palavras!
Prontamente, apreciarei o elogio, assim como a emulação.

26 de jul. de 2013

Estou triste

Não é por muita abstração ou qualquer indagação que tomou-me por dias, não.
Não estou triste por não entender, por ser jovem e ignorante,
Entendo muito das regras, tenho meu código moral e entendo o seu também.
Sou um homem lógico: eu observo, experimento e comprovo,
Mas não estou bravo com minhas ciências também, afinal, somos humanos.
Estou decepcionado, acredito que seja mais correto.

Na verdade, só estou decepcionado, não existe um motivo pra isso..
Exatamente! É exatamente a falta de motivo que conturba-me, é ilógico!
Daí, tirei que a falta de um motivo significaria uma totalidade de fatos incompreensíveis à minha lógica juvenil,
Eu sou, de fato, muito jovem e, portanto, inexperiente e, por isto, confuso, muito confuso.
Quando começo... ah! quase não sei onde vou parar... que diferença faz? De decepcionado vou sempre à perturbado.

Essa necessidade constante de pensar, de entender, de resolver esses problemas,
Esse martírio constante e falso que passamos diariamente ao fingir que nos importamos,
Qual a relevância de tudo isso? Por que entender? Por que resolver?
Pelo que morrer? Talvez tenha mais atrativos: pelo que viver?
Estava errado, não entendo seu código moral.

Estou triste, mas não é por nada não... pra que pensar?
Sei que pessoas morrem antes de começarem a viver,
Sei que há o absurdo dos homens diariamente,
Sei que não existe ordem, lógica ou coerência.
Estava errado, não sou um homem lógico.

Esses homens são déspotas maníacos,
Só sabem seguir seus instintos e suas ambições perversas,
São todos impuros por natureza e condenados por ela.
Estava errado, não somos humanos, somos animais.

Estou triste... não! estou decepcionado.
Estou decepcionado pois fui enganado há muito tempo.
Estou decepcionado pois mentiram e eu não sei admitir.
Estou decepcionado pois não seguimos nossos códigos.
Estou decepcionado pois minha lógica é falha.
Estou decepcionado pois não sou um humano.

Animais não ficam tristes,
Animais não ficam decepcionados,
Animais ficam perturbados.
Acho que acertei agora...

30 de abr. de 2013

Se o mundo cheirasse a ti

Se o mundo cheirasse a ti,
Não haveira poemas vis,
Não ouviria-se querelas de alguém
Nem um ser cantando Réquiem.

O céu noturno ficava por si
E não haveria Van Gogh para o enegrecer.
Se surgisse um bêbado, seria de outrem,
Não um Alighieri pra cantar o que vem.

Talvez morressem uns cem,
Mas nem os três de maquiavelismo,
Nem ninguém de ímpeto preciso.

Acho que seria feliz também,
Possível adepto de eternismos...
Starters Naribus? Haeretici!

17 de mar. de 2013

Homo ludens, de fato

Vivia como se tinha que viver,
Era bom para todos e isso incluía mulheres.
Sorria, mesmo sem precisar
E cantava, como se fosse de bajular.

Funcionava como era de se esperar.
Ele ria, ela entretinha-se,
Mas era só o que tinha que dar.
Afinal, acabou que sempre davam.

É o dar que me intrigava..
Trataria-o como eunuco se não soubesse.
Compensava a fraqueza que não podia mostrar,
Normalmente, só não querem mostrar.

Um dia, foi cantado.
Não parecia dar certo no sentido contrário,
Mas foi continuado sem temer
E, no final, acabou que deu também.
Vai entender...

26 de jan. de 2013

Gente grande

Sinto medo.
É foda admitir isso, como todos sabem.
Mas sinto medo do que está por vir...
Como todo bom humano sente.

Não tenho a mínima certeza do futuro,
Não sei se é feito de solidão angustiada,
Ou de alegria compartilhada,
Mas tenho medo do que está por vir.

Seja lá como for,
Sei que vou aguentar da forma que aparecer.
Porém, não quero mudar..
Gosto do que foi e sinto gosto de lembrar!

Há muito que os tempos não mudam,
Mas não existe o que fazer para impedir.
Sei que minha base tende a tremer
E que meus instintos gritam para uma fuga.

Porém, não há homem que lute contra o acaso,
Não há quem consiga vencer a alternância de tudo... e de todos.
Meus pés podem ceder à grandeza do tempo,
Mas meu espírito nunca se curvará.

Sinto falta do que se foi...
Sinto angústia ao pensar no que poderia ter sido...
Mas não tenho ressentimentos,
Esse tempo, passou-me.

Que a força de Deuses recaia sobre mim,
Que a badalada final toque em minha presença,
Que o fim dos tempos encare-me frente a frente!
Nada disso põe medo em minha alma.

Mas o amanhã?
O dia de que nada se aguarda:
Meus pedaços, minhas fibras, minha alma!
Tudo tende ao temer.

21 de jan. de 2013

Alguma coisa sobre estrutura

Não acordei sentindo alguma coisa,
Passei a tarde procurando Sentido
E fui dormir meu sono vazio...
Mantenho esse esporte.

Quando perguntaram sobre mim,
Decidi ir-me pela porta do cômodo;
Mas quando vi televisão,
Senti a paz reinar de novo.

Acho que perdi alguma coisa,
Mas não chequei pra conferir.
De fato, estou mais leve,
Sem forma pior, é claro.

Acho que nunca existiu,
Essa seria a solução!
Quanta insistência, essa minha,
Nunca aceito ouvir não...

10 de jan. de 2013

Fotografia

Estão olhando pra mim!
Estão olhando pra mim?
Devo ter sido esquecido...
Não precisa ser algo ruim.

Quanta anarquia...
Quanto descontrole!
Há índios vagando por aí
Ao lado de vadias que nunca esqueci

São homens tão fortes quanto estúpidos;
Casais cujas fotos eu caio no riso;
Caxinguelês, famosos traidores...
Entre outros merecedores de forca

Vou manter essa golfada aqui dentro,
Não é minha intenção ofender.
Mas isso não muda fato nenhum,
Em outras palavras: podem morrer.

8 de jan. de 2013

Beleza relativa

Nada como ter um dia de arsh
Percebendo a stronzate existente
Nos mais crédulos fils de pute
E nos amáveis gelehrte

Mas não seja tão stultus
Faço questão de te baiser...
Da maneira mais douloureux
Mas mantendo o prazer

Não há necessidade de urlare,
Acredito que ninguém audire
Peço que fique à vontade
Pois o sessu vai inizio

Sentem-se em seus lugares,
O montrer está para abrir
Não chorem, bambini
Um dia estarão aqui

5 de jan. de 2013

O Sentimento

Senti falta da sua presença,
Do jeito que fala comigo
E permanece calado em crença...
Na surrealização do absoluto

Sei que sentiu minha falta...
O que é de você fora do meu ego?
Somos, os dois, produtos mútuos
Dependentes eternos em guerra

Sabemos da verdade:
Não faço mais de você
E o contrário é feito justo.
Só esperança nos escora.

Faça-se confortável,
Agite-se como preferir
E divirta-se enquanto puder..
Pois não vai durar muito