13 de dez. de 2012

Concreto

Há um pássaro que sempre canta,
Um casal que anda pela praça,
Um velho que lança suas mandingas,
Uma moça que é sempre bela.

A cada segundo, um carro passa,
A cada minuto, ouve-se um samba,
A cada hora, o sino toca,
A cada dia... nada nunca muda.

Não quero um pássaro que cante,
Não quero um casal andando,
Não quero um velho revoltado,
Não quero uma moça assim.

Quero um pássaro que nade,
Quero um casal que corra,
Quero um velho que chore,
Quero uma moça... que morra.

Mas que cante,
Mas que ande,
Mas que lance...
Mas que seja!

2 de out. de 2012

À Deriva

Cantei, e cantei, e cantei.
Não senti dó de mim.
Pois, Chico, sinto-me bem!
Isso é algo para contar.

Não tropecei no mundo,
Nem escorreguei na vida,
Mas senti prazer..
Em tudo e em todos.

Senti prazer ao não pensar.
Ao esquecer-me das consequências,
Assim como das regalias.
Creio que não restem para mim.

Agora, estou à maré.
Leve-me, busque-me...
Faça como queiras!
Mas deixe-me em meu canto
Que a tanto me espera.

25 de set. de 2012

Eclosão

Sinto-me vazio porque não mais tenho o que completar.
Sinto-me vazio porque fui deixado assim.
Seja por demônio divino ou querubim caído,
Sinto-me vazio.

Não sinto raiva nem angústia,
Não desejo vingança ou punição.
Não quero nada... e por isso estou.

Pois que venham novas trovas à cantar,
Novos delírios na beira da razão.
Que deem o pior que possam dar!
Pois sinto a vontade de disputar.

Não quero história,
Deixo-a para os que se fazem dela.
Tenho apenas avidez pelo momento,
Que ele exista e se faça.

Estou privado de felicidade,
Tampouco de tristeza.
Mas espero por sentir arder...
E queima.

24 de set. de 2012

Inefável

Hoje um anjo beijou-me a testa.
Senti-a atravessar o peso travestido
De memórias, de imagens, de vergonha...
E por instantes me senti leve... a sonhar...

Saiu à voar.
Era corrida por seus afazeres
E disputada pelos mais nobres celestes.
Ainda assim, voltava sem falta para me concertar.

Deixava-a ir, pois sabia que voltava,
Pois mesmo quando os Deuses a castigavam
E o mundo abalava com Iras eternas,
Estava ela lá, a bater em minha janela.

Quando não mais entendia sua vontade,
Quando fustigava-me o pensamento
Perguntei-lhe o por quê de tudo isso.
E ela? Ela sorriu...